DA TERRA
Filhas e netas de mulheres migrantes do interior para a capital mineira, Da Terra memora as heranças transmitidas pelos saberes das plantas, na instauração de um corpo-quintal que se estabelece por meio de um mascaramento realizado com folhas, frutos, raízes e legumes do dia-a-dia afroindígena brasileiro.
3/7/20252 min read


Azeite de dendê, quiabo, inhame, comigo-ninguém-pode, coco, pimenta, arruda, guiné, taioba, lobrobo, folha de bananeira, espada de Ogum, mandioca, coentro, entre outros.
A culinária afro-brasileira tem sua origem com a chegada dos negros escravizados à colônia. Os africanos escravizados tiveram que recriar seus quitutes com os ingredientes locais. Em lugar do inhame, usaram a mandioca; e para substituir o sorgo, utilizaram o milho. Para compensar a falta de pimentas específicas, recorreram aos condimentos locais e, mais tarde, ao azeite de dendê.
Os negros escravizados também observaram os pratos preparados pelos indígenas, como o pirão, a moqueca e o bobó. Todos eles foram enriquecidos com produtos africanos como o leite de coco. À medida que o tráfico negreiro crescia, sementes e mudas de plantas africanas foram trazidas pelos portugueses, como o coco, o dendezeiro, o inhame, entre outros, permitindo que os negros introduzissem esses elementos aos quitutes locais.
Em nossas casas, por meio da oralidade das mulheres pretas de nossas famílias, nos é passado o legado da confluência estabelecida entre os diferentes povos que ocuparam e ainda ocupam o território mineiro. Nossas casas são rodeadas por plantas que alimentam o corpo, alimentam a alma, curam e protegem. Cercadas de seus encantamentos, essas plantas são também nossas ancestrais. Em um mundo onde se busca cada vez mais os céus, fazemos o exercício constante de afirmar que somos da terra.
A performance consiste na construção de uma máscara com folhas, frutos, raízes e legumes do dia a dia da culinária afroindígena brasileira. A proposta é utilizar os recursos que estão disponíveis em nossos terreiros-quintais. Assim, por meio desta performance, nos aproximamos da terra, compreendendo seus ciclos de plantar e colher.
Os atuadores, vestidos de branco, transitam pelo espaço com os ingredientes nas mãos, que serão depositados em um suporte próximo, onde a máscara será elaborada com os elementos sendo anexados ao rosto e amarrados com fio de palha. Após a realização da máscara, os atuadores permanecem no espaço, propondo diálogos a partir de imagens construídas com a arquitetura do local.
Esse trabalho foi realizado nos bandejões (restaurantes universitários) da UFMG no campus Pampulha em 2022 e 2023, na Faculdade de Educação (FAE) em 2023 e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em 2024.







